Viva Chico (ou guia de sobrevivência para gordos em shows)
Crônica originalmente publicada em 25 de janeiro de 2012 no Papo de Gordo.
Eu sou fã do Chico Buarque. Quando ele começou uma nova turnê de shows eu precisava assistir de qualquer jeito, afinal, não perco nenhum show dele desde 1999 (tudo bem que, contando esse, foram apenas três nesse tempo todo, mas isso não vem ao caso). O problema é que, para assistir o show, eu sabia que teria que enfrentar… a casa de shows!
Eu não sou muito de sair. Fui a pouquíssimos shows durante a minha vida e não me envergonho disso. Rock in Rio, por exemplo, pra mim é um bom programa de TV. Até tive uma experiência traumática uma vez em um show da Daniela Mercury, envolvendo muita lama, uma ameaça de briga, uma parede de banheiro que caiu e uma pessoa urinando no capô de um carro, mas isso não vem ao caso agora.
Apesar disso tudo, volta e meia aparecem uns shows que eu fico com vontade de assistir. A vontade passa rápido. Mas um show do Chico Buarque eu jamais poderia perder. Nos dois shows anteriores, ele se apresentou no falecido Canecão, onde tive alguns contratempos. Por exemplo, havia apenas uma pessoa para anotar os pedidos de mais de cinquenta mesas. E ainda tomei um esporro da garçonete porque fui perguntar à chefe dela (sem má intenção, juro) se eu demoraria a ser atendido.
Dessa vez, o show dele foi no Vivo Rio. É um lugar bonito, bem localizado e tudo o mais. O problema é que segue o padrão das casas de show: colocam dez mesas num espaço onde caberiam seis e ainda completam o pequeno espaço com cadeiras esmagadas umas às outras. Gordos sofrem nesses lugares. Ir ao banheiro, por exemplo, deve ser feito na chegada porque é impossível se locomover em meio a uma multidão de pessoas depois que o show começa. Isso se conseguir afastar a cadeira da mesa sem atropelar o “vizinho” de trás.
Para tentar evitar isso, dessa vez fiz um esforço e, ao invés de ficar nas mesas em frente ao palco, comprei um camarote. Mas não se engane com o nome: camarote é, na verdade, uma mesa no andar de cima. A vantagem é que, teoricamente, tem um pouco mais de espaço entre cada uma. Em contrapartida, no caso do Vivo Rio, são mesas para quatro pessoas sendo utilizadas com oito cadeiras. Sim… A mesa tem a metade do tamanho das demais, mas para o mesmo número de espectadores. Para garantir um bom lugar (afinal, em cada mesa, os poucos lugares que prestam são de quem chegar primeiro), fui o primeiro a entrar na casa. Pior para um casal que comprou a mesma mesa e chegou bem depois: A moça deu um baita esporro no rapaz porque eles nem conseguiam ver o palco direito de onde tiveram que se sentar.
Depois de chegar com três horas de antecedência e me acomodar numa boa posição em uma cadeira que tem a metade do tamanho de meu traseiro (mas, mesmo assim, feliz porque nos lugares diante do palco minha barriga estaria desafiando as leis da Física e ocupando o mesmo espaço que a mesa), foi a hora de pedir as “comidinhas”. Afinal, gordo faz gordice em qualquer lugar. Só que essas “comidinhas” são, essencialmente, porções pequenas de lanchinhos genéricas com o mesmo preço de um jantar em restaurante chique.
No meu caso, como estava com mais quatro pessoas, pedi três opções: uns sanduichinhos de queijo com algo, umas carninhas e uns miniminichurros. Estava bom, admito, apesar de incrivelmente caro. A vantagem, porém, é que só mesmo um gordo pra ficar comendo depois do show começar, o que me garantiu devorar mais da metade da comida sozinho sem ninguém reclamar. Por sinal, sugiro veementemente colocar pedaços da carninha dentro do sanduichinho e cobri-lo com um miniminichurro. Fica uma delícia.
Mesa apertada e comida cara não são mistério para nenhum gordo que se aventure nos fast-foods da vida (ou seja, não é mistério para nenhum gordo), portanto dá pra tirar isso tudo de letra. O que não dá pra aguentar é quando o pessoal resolve levantar pra dançar. Não faz sentido ficar rebolando no exíguo espaço entre a mesa e a cadeira, tentando equilibrar a máquina fotográfica em modo filme e não tropeçar nos pedaços de comida que se espalharam pelo chão. Eu opto por ficar sentado e só levanto para aplaudir depois do segundo bis (o cantor sempre volta duas vezes, não gaste sua energia erguendo seu corpanzil antes de derradeira).
Resumindo as dicas: Chegue cedo pra encaixar seu barrigão no melhor lugar possível, leve uns amigos para você conseguir comer mais gastando menos, só levante na hora de ir embora ou vai ficar parecendo um espantalho espancado e compre o DVD do show assim que sair para ficar se perguntando “Por que diabos eu gastei o triplo para ver esse show numa cadeira ruim quando era só esperar um pouco para assistir tudo no sofá da minha casa?”.
PS: O show do Chico Buarque foi f*%@ pra c@r@!#* e eu veria de novo quantas vezes fosse possível mesmo passando por todo esse sofrimento. A pergunta final só vale para outros artistas. E não discutam comigo!