Gordo de Raiz

Um gordo de raiz na Sapucaí!

Crônica originalmente publicada em 17 de fevereiro de 2010 no Papo de Gordo.

Carnaval e gordo combinam! E não, não estou falando do Rei Momo, ô pessoal sem imaginação! Falo de pular o Carnaval… mas com limites, ou o gordinho pode figurar nas estatísticas de atendidos na Emergência ao invés de nas estatísticas de foliões.

Bom… Carnaval e gordo não combinam tanto assim… Nem todo gordo quer ficar espremido no meio de um galerão muvucado atrás de um trio elétrico ou de um bloco de rua. Mas há uma experiência que nenhum gordo deve deixar de passar antes de chegar à conclusão de que o negócio é mesmo ficar num camarote com ar condicionado (ou em casa, com ar condicionado, claro): Desfilar na Marquês de Sapucaí!

Apesar do Dudu jamais concordar comigo (afinal, ele acha que Carnaval só existe na Bahia), participar de um desfile de escola de samba é uma sensação muito boa e única. Só magia explicaria um gordo usar uma fantasia pesada, quente pra diabo, para atravessar 700 metros a pé, sob o calor dos refletores, sem nenhum ventinho e sem beber água durante cerca de 45 minutos e ainda gostar. Muita maconha na cuca ou litros álcool no sangue também explicariam, mas certamente não foi meu caso.

Mas, comecemos pelo princípio: Todo Carnaval, eu sempre fiquei em casa. Nem para blocos de rua eu me arriscava a ir. Odeio bate-bolas desde criança. Mas adoro um sambinha caprichado e torço pra Beija-Flor desde que me entendo por gente. Precisava desfilar ao menos uma vez na vida.

Finalmente surgiu a oportunidade: Desfilaria esse ano na ala Tom & Jerry, fantasiado de inconfidente. Tudo bem que até agora não entendi qual é a do inconfidente num enredo sobre Brasília, mas isso não importava. O que importava é que minha fantasia seria relativamente normal (outras opções eram “revolucionário faraônico”, “pássaro sagrado” e “onça pintada”, então não tinha do que reclamar).

Admito que tive um pouco de trabalho para caber na fantasia (o casaco teve que ser feito sob medida, mas não teve problema gastar tanto pano, já que havia uns três anõezinhos na minha ala, o que deve ter equilibrado os custos totais). Também fiquei meio bizarro com a calça colante amarela, que só ficou colante em mim, já que, em teoria, era pra ser bem larga. Mas, faz parte.

Fui com o pessoal de Nova Iguaçu de ônibus para a Marquês de Sapucaí. Uns 40 minutos de viagem em plena meia-noite. Dormi muito nos dias anteriores pra me preparar (desculpa maravilhosa, por sinal). Na concentração, muita gente vendendo água e cerveja. Pra comer, churrasquinho de gato ou frango de macumba empanado. Não arrisquei porque já havia visto o estado dos banheiros químicos, que acredito que fedem mais que os antigos banheiros medievais (e com mais cocô boiando também).

Duas horas com a fantasia, esperando a hora de entrar. Atraso. Calor. Bundas… Toda hora passavam bundas por lá. Várias mulheres também trocavam de roupa lá mesmo, na concentração, ficando com quase tudo à mostra. Porém, como sou meio distraído, acabei vendo só duas baianas velhas quase peladas. Bebi água.

Começou o desfile e fomos cantando o samba-enredo de ponta a ponta da Sapucaí. Eu já estava com dor nos pés, mas aguentava firme. Caminhava, admito, mas quando chegava perto das áreas dos jurados, eu mexia os braços também. Nessa hora, não se sente tanto o calor. Na verdade, a gente fica mais preocupado em procurar os famosos nos camarotes, mas não, eu não vi a Madonna. Quase vi Jesus no fim do desfile (não o da cantora, mas o original), porém consegui sobreviver.

Desfilar na Marquês de Sapucaí é uma sensação indescritível. Pena que a Globo cortou para uma visão aérea do Sambódromo na hora exata em que minha ala seria filmada. Mas, pelo menos, centenas de pessoas tiraram fotos minhas e me filmaram. Acho que estavam querendo registrar o bizarro da cena de um gordo com chapéu com plumas trazendo duas bandeiras sobre os ombros, mas prefiro acreditar que foram com a minha cara.

No fim do desfile, mais alegria ainda, ao ter que passar por uma corredor estreito com mais de 300 pessoas se acotovelando enquanto um carro alegórico não se movia na saída. E uns dois ou três quilômetros de caminhada até chegar no ônibus, estacionado longe pacas da Sapucaí. A farra acabou por volta das 7 da manhã e voltei pra casa, contente com a experiência… e doido pra recuperar rapidinho os dez quilos que eu devo ter perdido naquela madrugada.

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